A ressurreição de Jesus não deve ser compreendida como uma volta à vida biológica que enraizaria a existência humana numa dependência do mundo físico. O cristão deve, com a fé do coração, ir além da visibilidade cotidiana dos corpos inertes, dos corpos devorados pelas escleroses, dos corpos sem nenhuma reação e dos olhares perdidos nos espaços vazios. A ressurreição do Cristo nos garante que conseguiremos atingir a vida pessoal, o segredo interior, o espaço ilimitado e a presença que faz da própria existência um dom. Jesus é a presença como Dom Absoluto e nos faz ultrapassar o desejo tacanho da imortalidade, testemunhando-nos que ser imortal não é ser eterno. Jesus morreu de uma morte identificada conosco; uma morte que traz sua fonte no anúncio trágico de Paulo: “Em Cristo não havia pecado, mas Deus colocou sobre Cristo a culpa de nossos pecados, para que nós, em união com ele, vivamos de acordo com a vontade de Deus” (2 Cor 5,21). No entanto, Ele continua sendo a Fonte de uma vida inteiramente livre que se fez entrega por Amor. Somos chamados a sermos eternos e não imortais. Deus promete aos que amam a Vida Eterna e não a Imortalidade. Somos enviados como testemunhas da Ressurreição para dar ao mundo o fruto desta dinâmica interior, do nosso diálogo com Deus, cada vez mais intenso e mais profundo, que invade, pouco a pouco, todas as fibras do nosso ser e faz de nós, para os outros, uma Fonte e um Dom. Somente assim poderemos viver no espírito da Ressurreição e nos tornarmos um círio pascal que, sem escrúpulos, ilumina a todos com o esplendor da Vida. Seremos os artesãos da vida que carregam em todos os seus gestos e nas tramas do viver cotidiano esta Luz do triunfo de Jesus sobre a morte e aprenderemos, com Ele, a sermos um SIM para este mundo perturbado e vazio, pois “Deus não é um Deus dos mortos, mas um Deus dos vivos” (Mt 22,32)
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